Ah, a Hortência! Esse foi o nome dado à ela quando fora batizada, e não foi à toa…
Ela sempre fora uma menina muito encantadora, cheia de graça e de formosura e tinha uma paixão pelas flores, suas cores e seus aromas.
Essa parte da história eu conto em detalhes depois, mas o mais impressionante foi que, depois de tantos anos, ela resolveu mudar de nome… assim como quem muda de endereço. Segundo informações dos familiares ou talvez das más línguas, ela havia encontrado um amor verdadeiro e por isso não justificava continuar com esse nome. No mínimo estranho…
Hortência cresceu numa casa onde havia muito verde, entre flores e plantas, tinha uma horta cheia de verduras e frutas e era o passeio preferido dela pela manhã, tanto para arrancar as ervas daninhas quanto para apertar os botões de beijo (nome fantasia…rsrs) e colher as frutas e hortaliças. E era ali, pela manhã, que sua mãe lhe explicava e contava várias histórias e ela se divertia e usava a sua imaginação, além de aprender muito.
Depois de algum tempo, Hortência quis criar o seu próprio jardim, onde plantou flores das mais diversas, tinham orquídeas, astromélias, amor perfeito, calêndulas, dálias, jasmins, lírios, a dama da noite com aquele aroma espetacular também fazia parte desse jardim. Além de muitas outras flores, pedras decorativas e uma fonte, que se iluminava à noite e proporcionava aquele barulhinho relaxante de água caindo, tipo uma mini cascata.
Nesse momento, Hortência já estava se formando em paisagismo e pretendia fazer daquela arte, a sua profissão e estava muito feliz por ter descoberto que poderia usar essa paixão e vocação para embelezar várias casas, empresas e jardins públicos.
Com o passar dos anos, a falta de tempo para cuidar do próprio jardim foi tomando conta e o que era prioridade e importante para Hortência anteriormente passou a ser uma obrigação, sobretudo quando ela arrumou um namorado que era jornalista e editor de uma revista. Isso porque ela começou a escrever para a revista de jardinagem e ficava mais tempo no computador em um escritório do que no campo, cercada de verdes plantas e coloridas flores.
Ela foi aos poucos deixando de cuidar, de conversar com as suas flores. No início, sua mãe ajudava a aguar e cuidar das plantas, mas com o tempo a filha foi ficando cada vez mais distante e ia menos ao jardim. Era incrível como a relação entre Hortência e o seu jardim florido ficou em segundo plano e o quanto isso afetou a beleza e vivacidade das flores.
Enquanto ela se esquecia do que tinha a tornado tão feliz e realizada pessoal e profissional, entrava numa disputa para vencer um prêmio e ser a colunista oficial da revista e ficar ao lado do namorado, pois estava certa de ter encontrado o grande amor da sua vida. Hortência escrevia muito bem e ainda tinha uma baita experiência e conhecimentos sobre a flora e paisagismo….e não demorou muito ela recebeu o prêmio e foi eleita a colunista oficial e o mais importante para ela: ficaria o dia inteiro junto do seu namorado.
Enquanto isso, o jardim foi fazendo parte do passado de Hortência e as flores começaram a murchar, não nasciam novos brotos e aos poucos ela resolveu reduzir o número de espécies e optar por aquelas que davam menos trabalho e trocar o verde das plantas por mais pedras e adornos…. e a doçura, cor, aroma e amor que existia naquele jardim foi dando lugar ao cinza e à melancolia.
Depois de um certo tempo escrevendo para aquela revista chata e fazendo aquele serviço entediante, como Hortência descrevia, seu namorado terminou a relação alegando que ela não era mais a mesma pessoa, cheia de graça, alegria, apaixonada pela vida…..E que, ao invés disso, se tornara muito competitiva profissionalmente e “grudenta”, tirando a sua liberdade.
Ela caiu em prantos e foi em busca de algo que a fizesse bem, o seu jardim! e chorou, chorou, chorou derramando as lágrimas que começaram a regar as plantas novamente. Triste ela estava ainda mais com tudo o que o jardim havia se transformado, então Hortência resolveu sair pelos campos e colher mais flores e sementes, plantar e adubar para criar um novo jardim, sobretudo porque a estação era propícia para isso.
E então, depois de um tempo ela conseguiu reerguer o seu jardim, que estava ainda mais lindo e cheio de flores e frutos e Hortência sentia-se mais plena e realizada, voltou ao paisagismo e sentia-se grata por tudo, principalmente pelas flores não guardarem mágoa ou rancor…. e por ter descoberto um amor verdadeiro!
Foi assim que ela resolveu mudar o próprio nome para celebrar!