Era uma vez duas coelhinhas irmãs que trabalhavam numa toca oficina de arte.
Tina era a irmã mais velha e fazia trabalhos lindos de arte na oficina: pintava ovos para servir como adornos e enfeites para as casas e para a Páscoa. Eram ovos de várias cores: rosa com bolinhas amarelas, amarelos listradinhos de vermelho, xadrezes de azul e verde….e uma infinidade de cores, mais do que você pode imaginar….
E Tina cuidava da irmã Tininha e a ensinava a pintar e fazer os ovos coloridos para embelezar e enfeitar os lares.
Todos os dias Tina acordava cedo e deixava a irmã descansar, mas esta queria mesmo é aprender a arte e trabalhar!
Então Tina começou a ensinar Tininha e as etapas das aulas eram as seguintes: ela mostrava como se usava os pincéis, como misturava as cores, como fazer os desenhos e todos os detalhes na arte de construir ovos. E Tininha estava aprendendo direitinho. Prestava muita atenção, perguntava todas as dúvidas que tinha e já já iria começar na próxima etapa: a prática. Tininha estava animadíssima e ansiosa para chegar esse grande dia, onde ela mesma iria pintar os ovos.
Depois de uma cesta de ovos pronta, Tina juntamente com a irmã Tininha iam até a banca do Sr. Heitor para vender os adornos. Essa era última etapa das aulas: vender os ovos. Já era um preço combinado e ele dava a elas o valor de 5 cenouritas por cada ovo entregue.
Durante todo o trajeto Tina ia mostrando para Tininha o que era melhor fazer: o trajeto mais fácil, os cuidados que deveria tomar para chegar segura na banca e com os ovos intactos e outras dicas.
E foi assim por algum tempo e Tininha ia aperfeiçoando na arte de pintar ovos: a irmã fazia alguns de demonstração e ela reproduzia: ficavam lindos!
Até que chegou um dia em que Tininha resolveu por si só começar a criar os seus próprios ovos, sem fazer cópias dos da irmã. Então, enquanto a irmã estava fora da toca oficina, Tininha testou novas combinações de cores, fez desenhos diferentes, colocou acessórios e brilhos, ovos de tamanhos diferentes….
Estava pintando feliz da vida e cantarolando… até que Tina chegou em casa e viu todos aqueles ovos enfeitados de maneira diferentes em cima da estante da toca.
– O que é isso, Tininha? Esses ovos diferentes…. – perguntou Tina surpresa.
– Éhhhh…..eu estava fazendo novos testes e criando outros modelos de ovos. – respondeu Tininha receosa.- O que você achou?
– Uma bobagem, Tininha, você ficar perdendo tempo com isso, sendo que eu já te passei tudo pronto e o jeito certo de fazer. Eu já realizei vários testes anteriormente e te ensinei justamente o que funciona e o que o Sr. Heitor gosta de comprar.
– Mas é que eu fiquei tão animada com a ideia de criar novos modelos, queria ter a minha própria assinatura em alguns…. – completou Tininha.
– Deixe esses aí então e depois vemos o que fazer com eles. Eu quero o melhor para você e me preocupo…. por isso o mais certo é fazer desse jeito que te ensinei e que venho fazendo. – concluiu Tina.
Tininha saiu cabisbaixa e com uma leve tristeza, mas não ia continuar fazendo os ovos do seu jeito para não desapontar a irmã mais velha. Afinal de contas, ela realmente sabia mais que ela e foi quem a ensinou.
E então passaram-se os dias e numa das etapas dos ensinamentos, Tininha teria que ir sozinha até a banca do Sr. Heitor para vender os ovos e Tina falou para ela aproveitar e levar os produzidos por ela também. E assim foi.
Ao chegar na banca, o Sr. Heitor comprou os ovos feitos por Tina, mas disse que os da Tininha não iriam vender, pois não eram belos o suficiente. Então, quando estava voltando para a toca, ela resolveu passar em outras bancas para tentar vender os ovos de própria autoria.
E então, alguém chamou a coelhinha: – Ei, você está vendendo esses ovos? Eu gostaria de comprá-los.
Tininha arregalou os olhos e então foi desconfiada até a banca do tal senhor.
– Sim, o senhor…..gostaria de comprá-los? – respondeu Tininha.
– Deixe-me ver, coelhinha. E então pegou os ovos e disse: eu pago sete cenouritas em cada um deles. São belos e diferentes, isso faz deles ovos especiais, não vi nada parecido aqui nas redondezas. – comentou o senhor.
Tininha pegou as cenouritas e saiu toda contente, cantarolando.
E o senhor a chamou de volta. – Espere aí, coelhinha. Meu nome é Victor e quero te fazer um pedido: continue fazendo ovos belos desse jeito e saiba que quanto mais brilhantes forem, mais valiosos serão.
– E como eu faço para fazer os ovos mais brilhantes, Sr. Victor? – perguntou curiosa Tininha.
– Procure criá-los de dentro para fora – respondeu o Sr. Victor.
Tininha agradeceu e foi embora, pensativa… o que será que ele quis dizer? Como faria os ovos de dentro para fora?
Enquanto isso na toca, Tina estava preocupada com a irmã e com pena de quando ela chegasse com os ovos que ela tinha feito sem vender……o que ela faria para confortá-la? Tina não queria que Tininha passasse pelas mesmas dificuldades dela…..e percebia que a irmã era mais, mais frágil.
Toc…toc….toc…… – Sou eu, Tininha!!! Abra, abra! Entrou toda satisfeita e entregou as cenouritas para a irmã. Olha o que eu consegui ! – disse.
– Como você conseguiu isso? – perguntou assustada Tina.
– O Sr. Heitor não aceitou comprar os meus ovos, mas na redondeza eu conheci o Sr. Victor e ele me pagou 7 cenouritas pelos ovos enfeitados por mim. É ou não é sensacional?
– Tininha, tenha muito cuidado. “Quando a esmola é demais, o santo desconfia”.
– O que poderia acontecer? Ele disse que meus ovos são bonitos e especiais e que quanto mais brilhantes, mais valiosos podem se tornar.
– Como assim, Tininha? Não tem jeito de ficarem mais brilhantes….ele deve estar querendo dizer que você tem que treinar mais. – afirmou Tina.
– Ele disse algo sobre pintar de dentro para fora. Eu não entendi, mas vou procurar entender e continuar testando. – disse Tininha pensativa.
E então Tininha foi dormir ansiosa para chegar o dia seguinte e poder pintar e criar mais ovos para enfeitar muitos lares.
E enquanto isso, do outro lado estava Tina acordada e sem conseguir dormir, remexendo-se de um lado para o outro da cama e se perguntando porque a irmã não queria seguir seus passos e estava inventando de criar coisas novas? O jeito correto é esse e se ela seguir pelo outro caminho poderá sofrer, não dar conta de lidar com o negócio… Eu tentei fazer o meu melhor…e agora ela não precisa mais de mim. Eu dediquei todo o tempo à ela….e agora vai me abandonar?
Tina passou a noite inteira martelando isso em sua cabeça e quando acordou, Tininha já estava na oficina treinando na arte de fazer ovos decorativos.
E naquele dia, Tina fez os ovos mais foscos e sem graça de toda a sua vida e não estava conseguindo mantê-los belos e brilhantes. Levou para vender no Sr. Heitor e ele os comprou, porém pagou menos por cada um….
Tininha tentava pintar os ovos por dentro, mas estragavam….. e também não estava conseguindo entender o significado de pintar de dentro para fora.
E então ela fechou os olhos e resolveu escolher aleatoriamente os pincéis, as cores, concentrou-se e começou a pintar um, dois, três e então começou a sentir-se livre, leve, em paz e deixou que esse balanço interno guiasse os seus passos e seguiu pintando, desenhando o que vinha à sua mente e direto do seu coração.
Ao abrir os olhos, Tininha se surpreenderam com o resultado: os seus ovos estavam maravilhosos e muito brilhantes, as cores vivas e parecia que estavam até…. quentes.
Tina chegou na toca muito triste com o resultado dos seus enfeites e do lado de fora viu uma luz, um brilho forte saindo de dentro da toca. Prontamente abriu curiosa em saber o que tinha acontecido. Ao entrar se deparou com os ovos da irmã que mais pareciam pedras preciosas com perfumes florais.
-Tininha, essa preciosidade é obra sua? Estou encantada! – disse Tina com um leve sorriso e olhar de surpresa.
– Sim, querida irmã coelhinha, eu aprendi a pintar de dentro para fora, usei a técnica que o Sr. Victor me falou. Agora é a sua vez! – disse Tininha.
– Ah, eu não consigo…..
– Venha cá que agora eu vou te ensinar o que aprendi e retribuir todo o carinho e a gratidão por você.
Tininha deu um abraço forte na irmã, segurou em suas mãos e disse baixinho em seu ouvido: feche os olhos, sinta e siga o seu coração.
Então Tina começou a pintar, pintar, colorir e se sentia livre, leve, criativa, sentia o calor dos ovos e seu coração se expandir. E foram um, dois, três, quatro…..muitos ovos. Ao abrir os olhos, ficou emocionada com o resultado, pois nunca tinha feito ovos tão belos e brilhantes. Se sentia agora uma verdadeira artista!
As irmãs então seguiram felizes para a banca do Sr. Victor, que as parabenizou e comprou pelo sobro do preço os valiosos ovos decorativos.
As irmãs coelhinhas não pararam mais de realizar o trabalho daquele jeito: de dentro para fora e a cada dia tinham uma surpresa mais encantadora que a outra.
Dessa maneira, as irmãs juntas conseguiram misturar as sensações e liberá-las através de ovos ainda mais iluminados e encantadores. Na cidade, todos queriam os ovos de Tina e Tininha para enfeitar e encher os lares de aromas e emoções.